terça-feira, 8 de outubro de 2013

É cor de rosa choque? Educando meninas nos tempos de hoje...

     Num dos aniversários da Bia, acho que de 05 anos, eu comecei a me deparar com uma pequena parte da questão que quero começar a conversar por aqui.
      Uma das amiguinhas dela, quando eu ofereci a bandeja de brigadeiros (além de ser bri-ga-dei-ro,  coisa que criança ama, tinham sido feitos por eles)  aponta pra mim o dedinho em negativa: “Não tia, eu não POSSO comer, porque brigadeiro ENGORDA!!”
     Como assim mesmo? Será que eu tinha ouvido certo?? Eu tentei prestar atenção, perguntar de novo pra confirmar, de repente ela era diabética, ou tinha algum problema de saúde e não podia comer açúcar.  Mas...realmente ela estava de dieta, com FINS ESTÉTICOS, aos 5 anos de idade.
     A partir, mais ou menos, dos 4 ou 5 anos da Bia também começou a minha maratona para encontrar botas, sapatos e afins que não tivessem saltos, e roupinhas que não fossem de “gatchenhas sensuais”.





     Opa, começo a pensar,  o que estão fazendo com a infância das meninas???
     Comecei ai a perceber que educar menina não era o lindo sonho cor-de-rosa com princesas e barbies, ou melhor, era a ditadura do sonho cor-de-rosa com corpo padrão Barbie, rsrs.

Enquanto isso as doenças sociais, como a anorexia, vão de vento em popa...

     Desde então penso muito sobre a educação das meninas e queria começar a falar sobre esse tema porque acho que essas questões vão render muito assunto por aqui. Precisamos falar, questionar, não dá pra continuar aceitando as coisas tomando o rumo que estão...
      Eu acredito num conceito de infância diferente, que não existiu desde sempre não, um conceito criado na história, no Renascimento, quando criança começa a ser vista como CRIANÇA, separada do adulto. Antes disso criança era menos importante que o cachorrinho vira-lata da esquina.
     Vocês sabiam que nem nos cemitérios as crianças eram enterradas durante a Idade Média? Eram colocadas nos quintais mesmo. Eram consideradas tão sem valor que nem da sua “assombração” se tinha medo... Mas esse assunto fica para um outro post sobre história da infância, assunto que eu AMO e acho que pode ajudar muito a gente a entender o que acontece hoje, afinal a história é o espelho retrovisor. A gente olha para trás pra seguir em frente...
Não era fácil ser criança... E será que agora é?

     Por hoje quero só citar algumas coisas sem aprofundar, depois nós vamos conversando e pensando melhor sobre elas.
     Além da questão do corpo, de uma ditadura de um ideal de beleza impossível que começa a se impor já com as crianças, e dos padrões de roupas que as tornam mini-mulherzinhas (um tipo específico do que seria ser mulher), outra coisa me incomoda muitíssimo:
      Como as meninas se relacionam entre si ou como gosto de chamar de um jeito mais chique: a contrução das sociabilidades infantis femininas na atualidade  (dá nome de tese não? A gente fica com esses vícios depois de estudar muito, rs).
     Mas cá entre nós. Gente, é horrível o jeito como a maioria das menininhas se relaciona hoje em dia!!! Cada dia fico mais em pânico!!! Estou falando da “pesquisa de campo” que faço com a minha filha e afins e filhas de amigos e afins. Claro que existem exceções, e claro que queremos e achamos que nossas filhas são exceções (será????pânico de novo!!!).  E faço também pesquisa comparativa, rs. Como tenho filho e filha dá pra ver bem, até na mesma escola, como as coisas acontecem.
     Meninas disputam até o guarda-chuva mais bonito e a capa de chuva mais chique!! Claro que estou falando de meninas, dentro de um contexto (colégios particulares) e não quero generalizar demais. Claro que sei das demandas do consumismo que massacra a todas (mas porque mais as mulheres???).
     Tenho milhares de exemplos, não vão caber aqui. Sem ficar citando nomes e lugares, uma menina conhecida chegou  na escola com bolsa de determinada marca, como nenhuma das meninas ainda tinha, espalharam pra todo mundo que era falsificada. Ou numa outra situação tiram o relógio novo da amiguinha para olhar e passam para todo mundo ver que é falsificado.
     Olha o que o consumismo exagerado está construindo! Pessoas que valorizam mais o ter que o ser,  massacram a identidade do outro se não for construída pela aparência e pelas aquisições. Preciso um dia fazer um post só sobre os autores que me ajudam a entender isso, comprei milhões de livros de sociologia para tentar entender esses fenômenos pós-modernos...





Será que mulheres só pensam em sapatos??

     E as panelinhas então?? Já existiam na minha época, você vai pensar... Mas quando o critério para entrar na panelinha é ter viajado nas últimas férias para algum lugar fora do Brasil, (não vale Buenos Aires, rs) eu começo ter medo, começo a ter muito medo.
    Antes dava pra se esforçar estudando mais pra ser aceito como CDF, ou tentar ser o melhor no basquete (eu sempre fui excluída por isso, snif, mas virei a CDF, rsrs). Mas não dá para a criança aumentar a renda do pai e obrigá-lo a viajar pro exterior = EUA para ela ser aceita no clube da Luluzinha.
       A coisa esta cada dia mais sinistra...
    São só incômodos iniciais... Quem sabe conversamos mais sobre isso, quem sabe elaborando o mundo juntos podemos pensar alternativas (tem um livro sensacional  do R. Sennet chamado JUNTOS, vou falar sobre ele depois), quem sabe podemos pensar “descaminhos” para o caminho do culto ao corpo irreal, da “adultização” das nossas criancinhas, das relações sociais doentes que estamos criando onde elas acabam sendo vítimas e tiranas ao mesmo tempo???
Enquanto isso pelo mundo afora:


     E vocês, o que pensam sobre tudo isso?

11 comentários:

  1. Penso sobre a atribuição das escolas no que se refere às discussões acerca desses fenômenos. Não podemos nos conformar com a naturalização do que temos presenciado. A parceria família-escola se configura como relação legítima através da qual esse diálogo é bastante frutífero.

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    1. Ai Kelly, essa questão da parceria com a escola me angustia muito!! Não vejo essas questões sendo trabalhadas, praticamente se ignora tudo isso! Tenho pensado muito em como capacitar os educadores para repensarem essas questões. Quem sabe programamos um Seminário ou Jornada para educadores discutindo isso? Já está convidada para ajudar, rs Bjs

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Eu penso que os filhos são reflexo do que somos misturado com o meio-ambiente. Daí os pais devem ponderar quais conceitos são mais importantes na educação de seus filhos: uma escola que prima por um futuro pré-vestibular maravilhoso e com a socialização na base do "melhor" status quo onde o que conta é a conta bancária dos pais ou uma escola não tão primorosa assim, mas onde valores mais simples e humanos vingam mais do que as melhores notas no vestibular.
    Eu ainda acredito na segunda opção e particularmente prefiro escolas que tenham turmas menores também, justamente para criar um clima de camaradagem que escolas muito grandes, com turmas numerosas não conseguem recriar.
    E digo isso porque tive experiencia nos dois ambitos e com certeza, se ainda sou um ser humano um pouco menos medíocre, eu devo ao fato de ter tido uma educação num colégio onde a camaradagem prevalecia às aparencias.

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    1. Concordo com você Andréa. Mas como está difícil encontrarmos espaços escolares ou não , que valorizem valores realmente humanos! O medo de perder alunos ou até uma leitura superficial da realidade faz com que as instituições "ignorem" essas questões. Queria tanto escolas alternativas por aqui...
      Bjs

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  4. Silvana,
    o consumismo é fator de segregaçao social, mas ja era assim quando eramos adolescentes, nao? Eu me lembro que era "cool" ter o tenis Adidas Marathon. Para ousar querer participar da panelinha mais cool tinha que ter este tenis. Na escola usavamos uniforme, mas o adolescente encontrava um jeito de segregar.

    Quanto aos padroes estéticos, a menina constroe sua feminilidade pautada na mae. Quando a mae é psiquicamente doente, a ponto de dizer que brigadeiro "engorda" para uma criança de 5 anos esta criando uma patologia psiquica. Eu adoro brigadeiro e minha filha mais velha, também, é louca por chocolate, mas doce todo dia faz mal! Da diabetes, estraga os dentes. Procuro convencê-la a renunciar este prazer através desses argumentos. Sera que estou tendo uma postura patologica também? Vamos dialogando.

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    1. Com certeza Daniela, o consumismo não apareceu agora. Mas tem se acentuado muito, e tem nos transformado cada vez mais no que um autor que eu gosto muito, o Bauman, diz: mercadorias. As relações sociais são mercadorias: eu descarto pessoas, como coisas, eu sou aceita se aparentar algo, se tiver algo. A crueldade com que essas questões aparecem hoje são quase uma "doença social".
      Com relação ao corpo o Bauman fala do "corpo do consumo", aquele padrão impossível de ser alcançado, mas que sonhamos eternamente... O impossível é essencial para que as pessoas sempre busquem e não se contentem nunca.
      Acho que você está certíssima em não incentivar o consumo diário de doces, (eu as vezes jogo fora alguns doces que vem em sacolinhas surpresas e são açúcar puro!).
      O segredo é encontrarmos o equilíbrio, isso é que falta na atualidade, eu acho, as pessoas estão entre a obesidade e a anorexia!!
      Difícil essa nossa tarefa né? Mas ainda bem que encontramos pessoas pelo caminho afora para trocarmos figurinhas!
      Bjss

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  5. Me fez lembrar o livro que comprei no início da gravidez, "Educando Meninos" de James Dobson, e quanta coisa temos que pensar e aprender para educar nossos filhos, seja menina ou menino. Cada um tem uma parte muito boa e uma difícil, você melhor do que eu pode dizer, já que tem um de cada ehehe.
    Mas nos dias de hoje, onde tudo acontece em volta do consumismo e também do exibicionismo, é difícil manter os padrões antigos para cada idade. Não que tudo do passado esteja certo em relação aos dias de hoje, mas penso que no mundo em que vivemos, que tudo gira em torno de iphone, ipad, tablet etc, é mais difícil demonstrar para os filhos que brincar de bola ou andar de bicicleta é mais saudável para a idade deles.
    Para as meninas, acredito que seja ainda pior, já que algumas mães não se importam de suas filhas perderem um pedaço importante da sua vida, que é a infância; a fase da inocência e da pureza.
    Salto alto, unhas pintadas, regime, dieta, maquiagens.. deixamos pra mais tarde!!

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  6. Debora de Souza Machado9 de outubro de 2013 às 19:09

    Oi amiga, vou deixar meu pitaco aqui também! Na nossa época já era assim, lembras da sandália Melissa, né? rsrsrs eu não tinha e vc sim!! No basquete eu era boa e vc escalada por mim!!rsrsr afffff (rindo muito), sobrevivemos e agora aqui pensando em como não deixar nossos filhos e outras crianças passarem por isso. Acredito que as preocupações de nossas mães passavam longe disso, e ainda bem que a nossa estrutura familiar é saudável e nos fez chegar até aqui, refletindo, mudando e tentando mudar! Penso que as escolas deveriam estar mais atentas a estas questões, com muito diálogo entre os educadores para capacitá-los cada vez mais, sendo ao meu ver a parceria da escola com a família de fundamental importância! Insistir em palestras que possam resgatar o ser, as relações, a família! Criar tipo grupos de pais de uma maneira que sintam-se estimulados a participarem e a estarem presentes! Ai que delícia!!! Vc me faz acreditar mais nos sonhos!! bjuss

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  7. Silvana, muito bom reencontrá-la e poder refletir com você! Obrigada por colocar sua sabedoria a acesso de todos! Parabéns pelo post, parabéns pelo blog.. Beijos

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    1. Oi Amanda! Eu é que fico feliz de ter você por aqui pra gente trocar idéias!! Grande beijo!!

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