quarta-feira, 30 de outubro de 2013

"Onde está o papai?" Sobre ausências e presenças...

    Existem dias que alguns assuntos parecem que batem à nossa porta insistentemente, ou talvez prestemos mais atenção, recortando algumas coisas da realidade e olhando mais atentamente para elas.
      Ontem assisti a um clip muito interessante na minha aula de francês, de um cantor pop chamado Stromae, numa música intitulada "Onde está o papai?" (Papaoutai) que me fez pensar: "vou escrever sobre as coisas que a música reflete."  
(Se você quiser ver o clip clique no link http://www.youtube.com/watch?v=oiKj0Z_Xnjc)

     Hoje, lendo as notícias do dia, duas me chamaram muito a atenção: uma série de reportagens sobre a dificuldade das mães solteiras africanas criarem seus filhos na Europa. E logo depois me deparo com a notícia mais triste de todas: uma menina de 12 anos se suicida no seu quarto, na Polônia. O pai faleceu em 2009 e ela queria reencontrá-lo. A mãe encontrou o seguinte bilhete escrito pela menina:           
   Querida mamãe, por favor, não fique triste, é que eu sinto muito a falta do papai, e quero vê-lo novamente...

A menina polonesa Maria...



     Não tinha como não pensar mil coisas, tentando elaborar tanta informação complexa. Na verdade o post vai ser uma forma de pensar sobre algumas questões bem complicadas, difíceis de se abordar nos tempos em que vivemos.
  Até que ponto somos referência, pais e mães, referências essenciais no desenvolvimento emocional saudável de uma criança? Será que nossa sociedade está dando conta de tão grande responsabilidade?
     E aí lembrei de vários textos que li, e vou pensar um pouco a partir deles. 
E depois de tudo o que vi, hoje quero pensar um pouco sobre a figura do PAI na educação das crianças.
    Sempre tive uma baita admiração por mulheres que criam filhos sozinhas (por homens também, mas encontrei tão poucos pelo mundo afora). 
    Muitas delas dão conta do recado de uma forma surpreendente, até melhor do que famílias compostas por pai e mãe. Mas, com certeza, tem ombros muito fortes e  assumem o peso em dobro. 
    A primeira vez que prestei atenção mesmo nisso, foi quando coordenei um projeto social num bairro de periferia de uma grande cidade do interior paulista. Chamou-me muita atenção que metade das crianças eram educadas, criadas e sustentadas por figuras femininas, principalmente mães e avós. São o que chamamos de famílias "monoparentais" (geridas apenas por um dos genitores). O índice no Brasil de famílias com essa configuração está perto dos 20%. Interessante que na zona rural não chega a 10%. 
   Não quero fazer aqui grandes elucubrações teóricas sobre essa realidade. Mas com certeza fica a pergunta: porquê uma parcela dos homens na nossa sociedade, tende a não assumir a responsabilidade pelos filhos? Não pretendo responder essa questão aqui, tenho algumas hipóteses, mas seriam necessários quinhentos posts para tentar analisar algo tão complexo.
    O que quero pensar, mesmo que rapidamente, é sobre a importância desse papel para a formação da criança (e muitas vezes ele é muito bem desempenhado por outras figuras que não propriamente a do pai biológico). E quem sabe levar algum pai a refletir  ou algum futuro pai a assumir seu papel.

     A criança precisa de um Outro para formar sua visão de mundo e precisa da figura que represente o pai (assumo que estou partindo de uma visão psicanalítica). 
    Alguns autores como Bauman, Dufour e outros vão falar que na nossa sociedade há o declínio do Pai, em sua dimensão simbólica, e das suas formas figurativas, seja da Pátria, do Pai celeste, ou qualquer outra. E vão dizer que isso tem consequências bem complicadas no desenvolvimento humano e nas formas como construímos nossas sociabilidades... 
    Bauman vai além, analisando que tiramos também a morte e a eternidade dos nossos cotidianos. Agora vivemos como imortais e apenas para o "aqui-agora", para o hoje (já estou escrevendo um post sobre isso que é  um assunto interessantíssimo). 
      Não há mais uma figura maior. Aquela que nos momentos de crise nos pega no colo e acalma, ao mesmo tempo que representa  a "lei", ou aquilo que não podemos transgredir. Com maior ou menor liberalismo, quase todos vamos concordar que deva existir algum limiar que não possa ser transgredido, seja ele qual for, que seja em ultima instância o direito a vida de todos. 
    Sem os referenciais e os exemplos a serem seguidos, essenciais na infância, as crianças são "soltas" no mundo, tendo que se definir por elas mesmas, sem onde se apoiar e se espelhar. E eu só me construo como EU a partir do olhar desse outro.
     Profundo pensar que, diante de tudo isso, a "submissão a si mesmo talvez seja mais pesada de sustentar do que a submissão ao outro" (DUFOUR).
    Até os autores libertários defendem que a educação da infância só pode chegar na liberdade se partir da autoridade (diferente de autoritarismo) e a liberdade for aos poucos sendo construída.


     As crianças precisam de uma mediação. Hoje, muitas vezes, a família tem jogado essa responsabilidade para as escolas que, por sua vez, reclamam eternamente que não tem nada a ver com isso. E as crianças vão se criando... Angustiadas, sem mediação, sem papéis a observarem e a seguirem. A maioria dos povos indígenas é mais sábio que nós, educando pelo convívio e pelo exemplo, cozinhando juntos, caçando juntos, celebrando juntos...

    Alguns autores vão ao extremo de dizer que, em alguns casos, a falta da figura do Outro-Pai, pode impulsionar a criança/adolescente a juntar-se ao "bando", à "gangue" e às seitas, na busca do outro e da figura do Líder-Pai.      
    Vale a pena assistir o filme "A Onda", que mostra um pouco como a figura do PAI-LÍDER pode conduzir a ações de violência, quando mal direcionados.  
    
     
     Alguma coisa está errada quando lemos que nos EUA há 2,5 milhões de prescrições de antidepressivos para crianças e adolescentes.

       Precisamos estar atentos. 
    A ausência é pior que alguns excessos (excluindo-se é claro, qualquer forma de violência). Claro que nenhum dos dois é o ideal. Sempre que lembro de algum excesso de autoridade por parte do meu pai, penso: não precisava ter feito assim, mas foi para o meu bem, ele queria o melhor para mim. E não carrego nenhuma mágoa ou dor. Mas penso que, se a lembrança fosse das ausências (ainda bem que não foram), teria um imenso poço de tristeza e um vazio sem explicações, apenas porquês...
    Assisti há um tempo atrás um documentário no GNT sobre pais, e me chamou muita atenção um homem de mais de 40 anos que não conhecera o pai e o procurava insistentemente. Todas as vezes que ia para a cidade onde seu pai deveria, em tese, morar, olhava para cada rosto masculino pensando: será esse o MEU PAI? 


    É, para alguns pode ficar a ausência eterna de um papel nunca ocupado, uma cadeira vazia nunca preenchida nas festinhas de aniversário, nas comemorações da escola, na hora de dormir com a plaquinha: MEU PAI...

    E para os que são ou serão pais, nunca deixe sem resposta a pergunta de uma criança: onde está o meu pai?



PS- Recomendo fortemente esse filme, sobre ausências e presenças paternas...













domingo, 27 de outubro de 2013

Programas de Índio ou como aprender a sonhar com um mundo diferente...

     Um programa interessante que fizemos com as crianças, no fim de semana do "Dia das Crianças", me inspirou a escrever esse post.

    Fomos visitar uma exposição da Organização "Médicos sem Fronteiras", pela qual eu tenho uma enorme admiração, sobre a realidade dos campos de refugiados no mundo.


    Poxa, mas levar criança num negócio desses? Bem, como era uma exposição interativa, achei que poderia ser legal e diferente para as crianças. E também faz parte da pauta do meu "currículo" de educação de filhos tentar, pelo menos quando é possível, fazer com que eles vivenciem realidades diferentes, para aprenderem a lidar com o outro sem discriminação ou preconceito. Ah, também faz parte do currículo tentar mostrar e envolvê-los na dor do outro. 
     Mega ambiciosas essas minhas pretensões, não? Eu sei, mas não custa tentar, não é mesmo?

     Vamos então à exposição. Foi num parque lindo do Rio de Janeiro, chamado Parque Lage, aos pés do Cristo Redentor. 
     Numa área ao ar livre foi montada toda a estrutura, simulando um campo de refugiados. Um campo que poderia estar no Sudão, no Líbano ou em qualquer bolsão de exclusão do mundo.


     Quando chegamos, recebemos um papel com a identidade de um refugiado. Durante o percurso seriamos solicitados a ler o que a nossa identidade dizia e imaginarmos como aquela pessoa vivia, sentia, sofria... Eu seria uma mulher da Somália, com 08 filhos que fugira para o campo buscando ajuda para um dos filhos prestes a morrer de desnutrição. Meus filhos também receberam identidades de crianças refugiadas. 
A identidade que o Pedro recebeu, de uma criança malinesa

     Passávamos então por um circuito simulado, o mesmo que um refugiado passaria ao chegar ao campo fugido da guerra ou buscando ajuda para tratamentos de saúde. 

     A primeira parada era para conhecermos as moradias. Se é que uma barraca minúscula, que acomodaria até 8 pessoas e um choupana de gravetos podem ser chamados de moradia... O Pedro olhou, entrou e saiu das barracas, parecia que a impressão dele era que eram de brincadeira. Claro, é um referencial de vida muuuito diferente do que a gente vive, difícil uma criança como as nossas acreditar que alguém pode morar daquele jeito.




Arranjou um amigo e já aproveitou para descansar do calor escaldante do Rio dentro da barraca, rs

     Passávamos então para os banheiros. No bom sentido né, chamar buracos no chão de banheiro. O mais interessante era que os médicos, engenheiros, e psicólogos da organização é que nos apresentavam tudo, então podíamos perguntar, ouvir exemplos e testemunhos impactantes deles!

     A parte propriamente dos " ambulatórios" era muito interessante. Pensar que alguém poderia ficar ali, naquela tenda abafada, num calor de 45 graus do deserto, já servia para a gente pensar na doação do pessoal da organização e resistência dos doentes. 
     Contaram sobre o tratamento das crianças desnutridas, das doenças básicas que matavam muitos. 





     O setor da psicologia foi um dos mais interessantes, os desenhos das crianças,  de tantos cantos do mundo, denunciavam a violência que carregavam em suas almas. Algumas histórias contadas pela equipe, de tantas tristezas e mutilações da alma, nos traziam mais perto da dor deles...
Como falava de criança o Pedro prestou mais atenção aqui...



Não tive como não lembrar dos mortos de Lampedusa olhando esse desenho...

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     Ao final da exposição conhecíamos quem eram as pessoas verdadeiras referentes as identidades que havíamos recebido no início...

Mesmo sendo fotos, como não se emocionar com esses olhares?



     O Pedro e a Bia acompanharam tudo, mas, nessa altura do campeonato você deve estar pensando: que crianças nerds-maravilhosas-santas-que não existem são esses filhos da Silvana?

     Agora vem a parte B, rsrs. Estava um calor que só quem conhece o Rio de Janeiro sabe qual é, com um sol de rachar. Depois de um tempo as crianças começaram a reclamar do calor, e tal. Claro que eu aproveitei aquele papo de mãe chata para dizer: "imagina então se estivessem num campo de refugiados com um monte de outras pessoas e 45 graus?" Sadismo materno educativo né, rsrs.
     Em certa altura do campeonato começaram a pedir o celular para jogar, e obviamente eu não dei... Comecei a ficar com uma ponta de crise: será que vai ser mais traumático do que legal?
     Bem, depois das contradições, dos momentos de atenção e interesse por parte deles, e outros de tédio e chateação, acho que valeu a pena. Depois de tudo, quando perguntei, um tempo depois, sobre o que tinham achado, disseram que tinha sido legal... Então acho que valeu. 
Mas gente, nunca é um mar de rosas!! Ainda mais quando queremos que vivam coisas e referenciais de mundo diferentes...

     Mas ai começa, ou continua, a minha angústia. Os meus filhos, assim como os da maioria que conta a verdade (tem gente que adora idealizar os filhos não tem?) prefere passear no shopping, comprar brinquedos, jogar no tablet e todas as coisas que nós fazemos também! Mas achamos que não são suficientes e precisam de contrapontos. Entretanto é difícil tentar educar de um jeito diferente, tentar levá-los para outros caminhos e ideais que não sejam apenas o de "se dar bem", da meritocracia, e do EU gigante da pós-modernidade...
     Então a gente tenta, de um jeito e de outro. Eu me desespero ao pensar que na turma das crianças não tem criança negra por exemplo (ah, o Brasil é o país de todos não é mesmo?). Você já parou para pensar que, se não tomarmos cuidado, nossas crianças serão criadas em guetos, guetos da escola, do condomínio, do clube e não vão conhecer nem conviver como iguais com a diferença? Ah, e vou defender até o fim dos meus dias que isso é essencial para termos seres humanos realmente humanos.

     Na minha infância eu brinquei na rua, estudei em escola pública, convivi em comunidades religiosas onde havia do favelado ao dono da empresa. E tenho certeza que aprendi muito com isso. E quero que meus filhos aprendam também, mas hoje é mais difícil...
    Então tenho tentado, do jeito que dá, muito menos do que gostaria e acho que seria bom, proporcionar experiências e vivências com eles em direção ao outro.
     E esse post, mais do que tudo, é para fazer você pensar se não dá para fazer alguma coisa a mais também, que impacte as crianças a sua volta e mostre que o outro, mesmo diferente, é tão criança quanto seu filho, sobrinho, primo, e as vezes um gesto pode significar muito.
     
     Sempre que podemos fazer alguma atividade em comunidades carentes por aqui, as crianças são envolvidas, do jeito que der. A Bia sempre adora ajudar, seja nas maquiagens dos Dias da Beleza, ou ajudando na decoração. O Pedro fica zanzando no meio, mas sempre arranja ótimos amigos diferentes mas com o mesmo coração de criança nas nossas andanças...

Bia de palhacinha junto com voluntários ingleses numa atividade em uma favela da cidade

As crianças com os presentes de Natal e os grandes amigos recém descobertos do Pedro!!

Olha o Pedro me "ajudando" no teatro, rs

     De uns 4 anos pra cá, uma das coisas que fazemos é uma festa de Natal para uma escola de uma região carente da cidade. E tem sido tão, mas tão legal! Conseguir os presentes, planejar os detalhes, ter um monte de gente que se mobiliza para ajudar quando a gente começa a se desesperar. 

Massagens nos pés das meninas

Ajudando a montar tudo para festa do ano passado

     Ah, não pense que é festa da igreja, do centro espirita ou de alguma organização, não. Tivemos a ideia, chamei alguns alunos da universidade e agora aparecem amigos de diferentes lugares para ajudar. Ano passado conseguimos uns 150 brinquedos (nada de brinquedo de 1,99 não, se é para ajudar quem precisa meu lema é o melhor que pudermos!).
     E as crianças entram nessa junto. 
    Uma das coisas que mais me impactou no Natal passado foi a reação da Bia no início do planejamento. Ela anotou o número de crianças e começou a fazer as contas do montante de dinheiro que precisaríamos. Pensando em presentes entre 30 e 50 reais, mais toda a estrutura de lazer a alimentação, não era muito pouco. 
     Ai vem a pergunta dela: mãe, e se a gente não conseguir todo esse dinheiro??? Então eu busco, nos cantinhos do meu ser, toda fé possível e respondo: Bia, nós VAMOS conseguir. Quando a gente faz o bem, o amor ao próximo é algo sonhado por Deus para que esse mundo fosse diferente, então Ele sempre dá um jeito. 
     Uma semana antes da festa ainda faltava muita coisa e lá vem ela de novo: mãe, e agora,? E eu, na minha fé não tão grande assim respondo: nem que a gente pague bastante coisa Bia, no final Deus ajuda e a gente dá conta da dívida.
     Mas, para a surpresa dela, e minha também (a fé as vezes fraqueja, rsrs) conseguimos tantos presentes que sobraram, foram entregues para outras crianças e até pessoas carentes de outro bairro!! E a Bia ficou muito impactada com isso (e claro que eu também!!)
Era muito presente!! Graças a Deus!! Até o trabalho de embrulhar tudo é uma alegria pela conquista!

     Depois de tudo isso e do que ainda virá, tenho que acreditar que alguma coisa ficará no coração deles. Como mãe, tenho que tentar e acreditar, sempre...
Nesse Natal conseguimos um salão de festas emprestado, ai pudemos caprichar, com mesa posta e  guardanapos. E não sujaram nenhuma toalha, acreditam??

Painel com as fotos das crianças na primeira festa de Natal que fizemos

Por um bom motivo a gente "paga o mico" que aparecer, rsrs

Esperando o Papai Noel!!


     E quero deixar aqui um pequeno desafio. O que será que você poderia fazer aí, no seu bairro, na sua cidade, na escola da esquina, embaixo da ponte, no beco dos esquecidos?? Quem sabe nesse Natal também? Se você parar pra pensar e decidir fazer, quer apostar comigo que Ele vai te ajudar e você vai se surpreender?

     E quem sabe alguns daqui de perto,pais, mães, filhos, amigos não irão esse ano com a gente na nossa festa de Natal??
Ah, para não perder o hábito de exercitar a fé, estou pensando alto, ao invés de uma, tentar duas festas nesse ano!!!

Alguns poucos flashs, guardados pra sempre no meu e no coração de tantos, da nossa Festa de Natal do ano passado!!!

Teve até bolo do João e Maria!


Nosso Papai Noel!!

Tem coisa melhor do que ajudar a proporcionar esse sorriso????

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sábado, 19 de outubro de 2013

Voltando a falar de festas...e de meninas...


         Dois anos atrás resolvemos fazer uma festa de aniversário diferente para a Bia. 
     Já perceberam que o convencional não me agrada muito, não é mesmo? Tanta coisa legal para ser feita e as pessoas acabam fazendo sempre as mesmas coisas. Em muitas festas meus filhos nem querem mais participar da recreação, porque acham muito chato:"mãe, é sempre a mesma coisa, as mesmas brincadeiras". E o pior que se paga rios de dinheiro por tudo isso...

     A Bia faria 09 anos e queria um aniversário de "menina", lilás, com coisas de "beleza" e só queria convidar as meninas da sala. Nessa fase da "latência" ,como denominou nosso amigo Freud, elas querem mesmo distância dos meninos (por enquanto... ou não... mas uma outra hora discuto isso).
    Bem, não gosto de extremos, não sou do tipo, apesar das milhões de críticas que faço a construção do que é "ser mulher" atualmente, que tira tudo o que é rosa e proíbe fantasia de princesa. Não gosto de extremos, acho que o equilíbrio deve permear nossas buscas na educação dos filhos...
     
     Então vamos a festa: resolvemos fazer uma FESTA SPA, ou o SPA da BIA. Quando comecei os preparativos tive a maior crise: como trabalhar essas coisas sem acentuar apenas o lado Barbie-purpurina-princesa das meninas? Sem apenas reforçar "sejam lindas" e pronto?? Ai, ai, as vezes é mais fácil a gente pensar menos, contratar o salão de cabeleireiros que faz festa de criança e "largar" as meninas por lá enquanto a gente faz as unhas, rsrs.
     Mas no fundo eu também sou chegada numa princesa (pronto, confessei meu pecado pós-moderno!!). Não a Cinderela ou a Bela Adormecida versão Disney, mas a Sissi, a Maria Antonieta, e talvez até algumas personagens de Contos de Fadas, como a Pequena Sereia. Mas na versão do Hans Christian Andersen, na qual ela vira espuma do mar no final, muito mais poético!! E todas aquelas personagens da coleção dos Irmãos Grimm que povoaram minha infância.
     Pecados e idiossincrasias confessados, vamos a festa! Tudo foi feito em casa, com a ajuda da Bia e da minhã irmã e mãe que vieram alguns dias antes de outros estados só para a festa.
     Como sou chegada em detalhes e em trabalhos manuais, resolvemos começar pelo convite, uma bolsinha de papel coberta de tecido.

     Decidi também que a festa teria uma "programação", coisas de ex-professora de educação infantil, rsrs.
       As meninas receberam a programação impressa logo que chegaram. Eram recepcionadas com um "coquetel de frutas" de boas vindas e recebiam a programação.
     Depois de muito pensarmos, resolvemos começar com uma dinâmica de grupo. Tenho o privilégio de ter como irmã a melhor psicodramatista do mundo (ainda é assistente social e designer de interiores, tenho assessoria em várias áreas e de graça, rs). 
     Ela fez uma dinâmica super legal sobre " A beleza do CORAÇÃO", que trabalhava aspectos da beleza interior de cada uma de nós. Já que depois vamos trabalhar a embalagem, melhor falar primeiro sobre o conteúdo!

     Vocês podem pensar, mas numa festa?? Gente, eu tenho a "síndrome do educador", não conhecem, rs? Acho que qualquer oportunidade para transformar o mundo, para ajudar as pessoas a refletirem deve ser aproveitada. Quem sabe algumas meninas ali nunca tiveram oportunidade de pensar algumas coisas por outro ângulo??


     Depois da dinâmica começamos a programação. Fizemos um rodízio de atividades e as meninas iam passando por todas que quisessem. Todas recebiam um Kit com um roupãozinho e uma faixa para os cabelos. Como estava muito frio, tivemos que colocar por cima da roupa mesmo. Eu comprei tecido de forro, super baratinho, e o tio de uma amiga costurou por um preço bem em conta (acho que cobrou só 3 reais cada roupão!!!).

Detalhe para o Pedro intruso de roupão lilás, rs


     Mais uma vez tive ajuda de um monte de gente legal que Papai do céu sempre coloca do meu lado. Além da minha mãe e irmã que viajaram muito pra me ajudar, minhas aluninhas lindas do curso de Física (desmistificando que só tem menina feia nos cursos de exatas, rsrs) e minhas amigas do coração. 
     Achei umas batinhas bem em conta no comércio popular e as meninas que me ajudaram tinham até o uniforme do SPA!! Ainda bem que sempre alguém entra nas minhas idéias malucas e mirabolantes!! E meu marido ficou responsável pelo almoço, nosso SPA tinha churrasco de almoço, com saladas e legumes, nada de cardápio anoréxico! 



     A decoração não está profissional porque tudo foi feito com coisas levadas de casa, do tapete a gaiola da mesa! E improvisado (havia uma Tv atrás da mesa e tínhamos que tampar com alguma coisa). Fiz uns alfajors de biscoito com o monograma (acreditem, não é difícil de fazer). E chocolates coloridos, pirulitos e bombons, também "home-made".



     No "circuito do spa" as meninas passavam por algumas atividades: podiam fazer as unhas, massagem nos pés, montar suas próprias bijuterias com contas e enfeites. 
     E o que mais amaram de todas as atividades: Máscara lilás no rosto com pepino nos olhos. Foi divertidíssimo, elas acharam super diferente. Na verdade era iogurte tingido, para evitar qualquer possível alergia. Mas o ritual foi hilário, só estando lá pra ver!






     Depois dessa primeira etapa faríamos um concurso de beleza! Mas de um jeito diferente, até porque competição é, ao meu ver, alguma coisa que já temos demais nesse nosso mundo e precisamos ensinar muito mais a lógica da cooperação para as novas gerações (outra hora escrevo sobre isso também). 
     Todo mundo trocou de roupa, e foram para o "Coiffeur". Era a hora dos cabelos, e maquiagem. Podiam colocar adereços, e brincar com tudo isso. Engraçado a diferença de quando faço "dia da beleza" em bairros de periferia, lá as crianças querem colocar tudo: arquinhos, marabás, óculos.  Com as crianças de classe média é bem diferente...

     Antes do desfile, convidei uma amiga linda, que  já foi modelo, para conversar com as meninas. Fizemos aquele suspense: vamos receber hoje uma modelo internacional e tal!! Não imaginam a expectativa!
     A Maressa é linda, já trabalhou fora do Brasil, mas o mais importante é que foge do estereótipo "linda-burra", ela é advogada atualmente e não trabalha só com a beleza exterior. A ideia era a Maressa conversar com elas sobre o que realmente importa. Ela falou sobre alimentação saudável, valores, sobre estudo, deu seu depoimento. 
     Elas prestaram muito mais atenção do que se fossemos nós, as simples mortais, de aparência comum, falando as mesmas coisas...entenderam a jogada?rs
Olha a cara da Bia de alegria ouvindo a Maressa!!


     E finalmente o desfile final. Todas desfilaram, até o Pedro, olhem que figura!! (bendito fruto naquele dia).

     
     E não houve a escolhida. Fizemos faixas para TODAS as meninas e tocamos uma música bem conhecida (Aos olhos do Pai você é uma obra prima que Ele planejou, com suas próprias mãos pintou...). E falei sobre sermos todas especiais, todas lindas, que o mais lindo em nós é a forma como tratamos os outros, independente da cor, da condição social. 
     Pode parecer uma grande babaquice escrevendo aqui, mas só de lembrar eu já me emociono... Elas prestaram muita atenção e sei que, por um segundo que seja, isso entrou na alma delas, mesmo que depois, pela força de um mundo que pensa tão diferente, a mensagem não tenha perdurado...


     E agradecemos também...Em todas as festas das crianças nós tiramos, 1 minuto que seja para agradecer pela vida deles a Deus, nada específico de uma religião, mas um momento de gratidão que todos podem compartilhar. Eu acho que essas coisas e atitudes importam tanto quando pensamos em formar valores. E as vezes são tão deixadas de lado...
     
     No final levaram a cestinha com as lembrancinhas. Comprei as cestinhas numa loja de comércio popular e customizei com fuxicos e rendinhas. Nos perfuminhos (comprei uma loção de bebe e distribui nos vidrinhos), latinhas eu colei etiquetas que imprimi em casa usando papel de scrap-book. Os cup cakes fiz com toalhinhas de mão em que escrevi Spa da Bia e enrolei dentro das forminhas ( super fácil e dá um efeito lindo!).



     O que acharam da festinha? Que outras idéias legais já tiveram para festas de meninas que fujam do modelo convencional??